sexta-feira, 31 de maio de 2013
 Envolvente e espiritualista o Haicai mostra sua forma fascinante aos adeptos da cultura japonesa.

A internet é um dos meios que muitos haicaístas acharam para divulgar e dividir experiências, criando grupos em redes sociais. O grupo Cidade Haicai difunde essa prática entre pessoas que gostam ou escrevem haicais. Esse estilo é uma forma poética de origem nipônica, que valoriza a síntese e a objetividade. Os poemas costumam ter 17 sílabas japonesas, divididas em três versos de cinco, sete e cinco sílabas, contendo referências à natureza, faz menções a um evento particular e apresenta o acontecimento no presente, e nunca no passado.
No Japão, essa modalidade é tradicionalmente impressa em uma única linha vertical, enquanto no Brasil aparecem em três linhas em paralelo. A maioria das vezes vem acompanhada de uma pintura.  Em alguns países essa prática foi mudada, e cada poeta acrescenta suas próprias experiências. O estilo chegou ao Brasil no início do século XX e, atualmente, vem ganhando adeptos em todo o país.
Álvaro Posselt, professor de língua portuguesa
que se apaixonou pelo estilo japonês
(Foto-Arquivo Pessoal)
Um dos colaboradores do grupo Cidade Haicai, Álvaro Posselt, 40, professor de Língua Portuguesa, o grupo foi criado para estimular os integrantes a comporem haicais de acordo com um tema, uma fotografia, uma data específica “Isso faz com que a produção seja muito grande, pois a prática é um fator essencial para quem quer amadurecer como haicaísta”.
Segundo Nilson Seizo Kobayashi, 59, dirigente zen-budista, conheceu o grupo navegando na internet. “Me interessei, pois gosto de conhecer o trabalho de outros haicaístas”. Kobayashi conta que já conhecia esse gênero antes de entrar para o grupo, “Escrevo haicai e comecei há cinco anos”.
Já o professor Álvaro Posselt conta que conheceu essa modalidade em 2003, durante uma oficina de poesia na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba. “Fui seduzido pela forma minimalista, enxuta e rápida, porém como acontece com a maioria das pessoas, comecei a escrever tercetos achando que era haicai”, relata.
 Mas aos poucos foi descobrindo as características, aprimorando a técnica, ganhando experiência e confiança no que escrevia. Em 2006, os seus primeiros haicais tradicionais começaram a aparecer “Decidi então fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre o assunto.”. Essa tarefa trouxe um conhecimento mais claro, por isso começou a realizar oficinas na faculdade e em escolas.
Ele afirma que descobriu mais de sua essência. “A principal é que no caminho do haicai você sempre é o aprendiz, nunca saberá o bastante, pois sempre estará aprendendo através da vivência, da observação e respeito à natureza”.
O poema japonês representa um modo de ser, uma filosofia de vida, mostra que é necessário ter muita disciplina e dedicação. “Compor um haicai não é simplesmente escrever três versos, é preciso vivenciá-los, lapidá-los com simplicidade e espontaneidade”, enfatiza Posselt.
É um caminho que não se fecha em valores pessoais e não pretende julgar o mundo, mas que traz na sua simplicidade a arte de torná-lo mais visível e aberto à fantasia do leitor, Posselt mostra alguns de seus haicais que falam sobre as quatro estações:
Céu de outono –
O voo do avião trepida
Na poça d’água.

Ganha um novo brilho
O portão enferrujado –
Lua de verão.

Um risco no olhar –
A libélula projeta-se
Sob o céu azul.


0 comentários:

Posts populares

Seguidores

Tecnologia do Blogger.

Pesquisar

Arquivo do blog

Marcadores!